"... - Aprenda o valor das vitórias, Ciro. Nâo das vitórias que custam sangue, suor e fortunas e logo são esquecidas, mas das que custam pouco para serem obtidas, mas que trazem em seus louros um valor tanto pessoal como público muito grande e de valor inigualável. Aprenda, Ciro! Aprenda a calcular o preço das suas derrotas, mas não deixe de valorizar suas vitórias, senão nunca será um grande vencedor. (...)" (pág. 124)
"... - Está enganado, tio. O respeito que o senhor consegue é cruel, pois é obtido à força, chama-se medo, e não respeito. O que chamo de respeito traz em si admiração não o temor. Seja respeitado por seus vassalos devido à vida melhor que pode lhes proporcionar. Há uma diferença, tio Pietro! Acredite-me. Eu nasci e cresci do outro lado e sei muito bem como é grande a diferença. Saiba que entre o medo e o amor há um vazio que é preenchido pelo ódio. Já entre o respeito e o amor não há vazio que possam ser preenchidos pela confiança. Deixe que eles confiem no senhor do castelo. Não tema quando um deles sorris à sua passagem, pois pode não ter um amigo leal, mas ao menos não terá alguém que lhe deseje no mínimo a morte e no máximo o fogo do inferno.
- Quem é você, Ciro Neri? Algum santo?
- Não, tio. Sou só alguém que viveu a miséria que há no outro lado. Eu sei como é difícil, no inverno, ter de dormir com frio ou comer uma refeição única todos os dias do ano sonhando todas as noites com a libertação do inferno ainda em vida. O senhor tem que se impor pela força porque eles não olham a morte como um castigo e sim como a libertação. Enfim, eles não temem a morte porque não amam a vida, já que a vida não lhes dá motivos para que eles a amem. Pergunte a Mariana qual foi a reação de uma família que vive nas terras do castelo quando lhes dei algumas peças de roupas de lã.
- Qual foi a reação?
- Ficaram tão felizes e agradecidos que nos beijaram as mãos como se fôssemos anjos. Há uma diferença, tio Pietro, e ela é grande. Diminua um pouco essa diferença e verá que não precisará de soldados para manter seus vassalos submissos. Eles serão os primeiros a defendê-lo pois o senhor significará a vida para eles e não a tortura, que só a morte libertará. Substitua o medo pelo amor e receberá como recompensa de alguém, lá em cima, respeito, confiança, alegria, amizade e lealdade. Assim não será o temido senhor do castelo e sim o amado senhor da vida. (...)" (pág. 145)
"..., pois um sábio de verdade não se impõe e sim aguarda que o aclamem como tal. Aquele que se impõe é passível de ser derrubado, aquele que é aclamado reina sobre todos, do alto do pedestal em que o colocaram. ... Jamais entre nas disputas tolas que colocam sua vida em risco, só os tolos deixam que a vaidade de uma falsa vitória ofusque a razão do saber. (...)" (pág. 173)
"... - Isto eu não aprendi na prisão, e sim com minha esposa árabe. Foi ela quem me ensinou isto. Ela diz que: "quando não podemos ter a morada toda só para nós, o melhor é conseguirmos um luugar no seu interior." Isto é só um porvérbio dels adaptado à minha situação. (...)" (pág. 356)
"...-Acredite-me, minha filha! Aqui nesta mansão houve um tesouro e seis mulhers se julgavam a dona dele, mas nenhuma nunca proibiu que as outras o tocassem ou desfrutassem do seu valor. Conclusão: o tesouro se sentia tão valorizado que mutiplicou o seu próprio valor e se enriqueceu muito mais. Cada vez que uma delas colhia uma pepita, se sentia a mulher mais rica do mundo.
- A primeira pepita que eu conhi deste tesouro me enriqueceu muito, minha senhora. Isto posso lhe garantir! - falou Tereza, mas eu a repreendi logo.
- Uma boa discípula não comenta com ninguém o que seu mestre lhe ensina, Tereza. (...)" (pág. 410)
* Trechos do livro " A LOnga Capa Negra - Rubens Saraceni"
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