"... Deixo de lado a arma - também conhecida como enxada. Cada golpe significa o final de uma vida, a não-existência de umaflor que iria desabrochar na primavera,a arrogância do ser humano que quer moldar apaisagem ao seu redor. Preiso refletir mais, porque estou neste momento exercendo um poder de vida e de morte. A grama parece dizer: "Proteja-me, ela irá me destruir". A erva daninha fala comigo: "Eu viajei de tão longe para chegar ao seu jardim - por que você quer me matar"?
No final, o que vem ao meu socorro é o texto indiano Bragavard-Gita. Lembro-me da resposta de Krishna ao guerreiro Arjuna, quando este se mostra desalento antes de uma batalha decisiva, atira suas armas ao chão, e diz que não é justo participar de um combate que terminará matando seu irmão. Krishna responde mais ou menos o seguinte: "Você acha que pode matar alguém? Sua mão é Minha mão, e tudo que você está fazendo já estava escrito que seria feito. Ninguém mata, e ninguém morre".
Animado por esta súbita lembrança, empunho de novo a lança, ataco as ervas que não foram convidadas a crescer em meu jardim, e fico com a única lição desta manhã: quando algo indesejável cresce na minha alma, peço a Deus que me dê a mesma coragem para arrancá-lo sem qualquer piedade. ..." (pág. 21)
"... A maioria dos meus amigos,e dos filhos dos meus amigos, também tem um diploma. Isso não significa que conseguiram trabalhar no que desejavam - muito pelo contrário, entraram e saíram de uma universidade porque alguém, em uma época em que as universidades eram importantes, dizia que uma pessoa para subir na vida precisava ter um diploma. E assim o mundo deixou de ter excelentes jardineiros, padeiros, antiquários, escultores, escritores. talvez seja a hora de rever um pouco isso: médicos, engenheiros, cientistas, advogados, precisam fazer um curso superior. Mas será que todo mundo precisa? Deixo que os versos de Robert Frost dêem a resposta:
"Diante de mim havia duas estradas
Eu escolhi a estrada menos percorrida
E isso fez toda a diferença."
..." (pág. 29)
"... Há que lutar pelos sonhos, mas há saber também que, quando certos caminhos se mostram impossíveis, é melhor guardar suas energias para percorrer outras estradas. ..." (pág. 33)
"...- Encontros. Meu erro com você foi justamente esse. Ao invés de ficar mandando correspondência eletrônica, eu devia ter logo mostrado que sou feito de carne e osso. Quando não consegui receber resposta de determinado político, fui bater à sua porta, e ele me disse: se voc~e quiser alguma coisa, precisa antes mostrar seus olhos. Desde então, tenho feito isso, e só tenho colhido bons resultados. Podemos ter todos os meios de comunicação do mundo, mas nada, absolutamente nada substitui o olhar do ser humano. ..." (pág. 34)
"... Khan voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços. Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave, e gravou em uma das suas asas:
"Mesmo quando um amigo faz algo de que você não gosta, ele continua sendo seu amigo".
Na outra asa, mandou escrever:
"Qualquer ação motivada pela fúria é uma ação condenada ao fracasso"." (pág. 37)
"... Dizer não basta, pois as palavras que não se transformam em ação "trazem a peste", como dizia William Blake. ... não se deixarem dominar pelo pior dos inimigos: a desesperança. ... Talvez, mesmo com cada um fazendo sua parte, ainda é verdade que aprendi quando criança: "Contra a criança não há argumento". ..." (pág. 39)
"... Violência eu já vi nos quatro cantos do mundo. Lembro-me de uma vez, no Líbano, logo depois da guerra devastadora, em que eu passava pelas ruínas de Beirute com uma amiga, Söula Saad. Ela me contava que sua cidade já tinha sido destruída sete vezes. Perguntei, em tom de brincadeira, por que não desistiam de reconstruir, e se mudavam para outro lugar. "Porque é nossa cidade", respondeu. "Porque o homem que não honra a terra onde estão enterrados seus ancestrais estará amaldiçoado para sempre.
Apenas uma coisa fica lá dentro: a Esperança.
Sim, existe um provérbio: "Contra a força não há argumento".
Mas existe também o provérbio: "Enquanto há vida, há esperança". ..." (pág. 40)
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