quarta-feira, 12 de março de 2014

Adorei esse texto ★



Por uma semana ...
Sabe o que poderia acontecer de melhor nesse momento? Seria, durante uma semana, só existirem notícias boas. nem precisava que elas fossem tão boas assim; bastava que não houvesse nenhuma ruim.
As manchetes dos jornais não precisariam falar de coisas muito importantes; deveriam contar que neste ano, misteriosamente, estão crescendo flores em todos os canteiros de todos os prédios e que, igualmente, as vielas das favelas estão floridas e coloridas. Além disso, por um capricho da natureza, essas flores estariam mais cheirosas do que nunca. Mais do que isso, o fenômeno faria com que as pessoas ficassem mais gentis, mais delicadas, mais felizes. E os traficantes, no lugar de traficar, levaria grandes buques para as namoradas, que retribuiriam com beijos e uma série de palavras amorosas.
Os jornais contariam que os nossos deputados e senadores se renderam à beleza que tomou conta do país - e, durante essa semana, eles se esqueceriam de seus interesses particulares e votariam somente projetos a favor do bem-estar geral. E isso lhes faria tão bem que eles sairiam do Congresso a pé, falando com as pessoas com quem cruzassem na rua, sempre sorrindo, simpáticos, como faziam quando estavam em campanha. Eles também colheriam e levariam flores para suas mulheres, com um carinho que elas já haviam esquecido que existia.
As rádios só tocariam canções de amor e as televisões mostrariam prais, montanhas e lugares lindos onde se poderia passar uns dias só sendo feliz, mais nada. Algumas pessoas não seria citadas no noticiário dessa semana, e seria proibido falar de qualquer partido político, já que eles só nos trazem desgostos. Responda rápido: algum deles lhe trouxe alguma alegria nos últimos tempos?
Os assaltantes experimentariam uma trégua e iriam à praia dar um mergulho para esfriar a cabeça. Quando voltassem para casa, encontraria a mulher feliz, preparando o almoço, e a casa cheirando a um refogadinho feito na hora. E os dois sorririam um para o outro e talvez até se amassem e deixassem a panela queimar - por justíssima causa.
As crianças nas praças se enfeitariam com flores nos cabelos e não dariam um grito se quer; o único ruído que fariam seria o de risos e gargalhadas, tão felizes elas estariam. Pássaros voariam sobre nossa cabeça, e borboletas de todas as cores dançariam naquela coreografia louca que só elas entendem.
Nessa semana, apenas uma coisa seria proibida: tirar fotos com o celular. Para que as pessoas soubessem que os momentos de verdadeira felicidade não são esquecidos, eles ficam guardados dentro do peito - e, para isso, não precisamos de nenhuma tecnologia.
Barraquinhas ofereceriam, de graça, água de coco gelada e pão de queijo fumegante, como se estivéssemos numa quermesse. Ninguém teria a menor preocupação com coisa alguma, ninguém falaria de doenças nem de tragédias, até porque ninguém estaria doente e nenhuma tragédia teria acontecido. Experimentaríamos a ilusão, durante uma semana, de que a vida seria assim para sempre; e, à noite, quando aparecessem os primeiros vaga-lumes, haveria a certeza de que todos os nossos sonhos iriam se realizar.
Aliás, uma semana seria querer demais; bastaria que fosse assim por um dia.
Danuza Leão
Fonte: Revista Cláudia - março/2014.